domingo, 30 de março de 2014

ACIDENTES : ESTÁDIOS COPA DO MUNDO 2014

Colegas que estavam com operário no momento da queda são testemunhas chave

Felipe Pereira e Lucas Tieppo
Do UOL, em São Paulo e em Diadema (SP)

VEJA TAMBÉM

William Barbosa e David da Silva serão os dois personagens mais importantes na apuração da morte de Fábio Hamilton da Cruz, que faleceu ao cair de uma estrutura da arquibancada provisória do Itaquerão no último sábado. Eles são os dois colegas de trabalho que estavam na mesma estrutura da qual Fábio despencou. A informação foi confirmada pelo delegado titular da 65ª DP, Luiz Antonio da Cruz, neste domingo, após a realização da perícia no local do acidente.
O laudo dos peritos ficará pronto em até 30 dias, mas a investigação entra, agora, na parte chamada de subjetiva pelo delegado, que é quando as testemunhas serão ouvidas. Por isso, William e David passarão seus testemunhos nos próximos dias, quando mais detalhes poderão ser dados.
"O perito falou que ele caiu de oito metros e que estava com o cinto", iniciou o delegado. "Agora, a gente vai ver se ele estava com o mosquetão ou não conectado ao cabo vida. Vamos ver se foi acidente ou não posteriormente. Se eu te falar alguma coisa sem ouvir os dois funcionários, pode virar fofoca", complementou.
No velório da vítima em Diadema, também neste domingo, William e David deram entrevistas e afirmaram que Fábio estava com o cinto, mas não conectado ao cabo-vida no momento da queda. De acordo com o operário, ambos usavam os equipamentos de segurança normalmente até o momento que desprenderam o cinto para realizar uma manobra sobre a estrutura em construção. Não demorou para um terceiro funcionário gritar para os dois prenderem novamente a 'fivela'. William conseguiu, mas para Fabio foi tarde demais.
Luiz Antônio foi mais contido do que o outro delegado que registrou os boletins de ocorrência na 24ª DP, Rafael Pavarina. Na noite de sábado, horas após o acidente, ele afirmou que todos os indícios apontavam para uma negligência por parte de Fábio, que tinha 23 anos e três meses de obra.
Alguns detalhes importantes na investigação ainda não foram apurados. Eles ainda não sabem, por exemplo, se os operários tinham o treinamento necessário para trabalhar em altura e também não há a certeza se houve falha nos equipamentos.
"Trabalhamos com todas as hipóteses. Pode ter havido falha de equipamento ou da estrutura, pode ter havido negligência da vítima ou pode ter culpa da empresa. Nós vamos apurar tudo isso".
A área do acidente está liberada criminalmente pela Polícia, mas ainda pode sofrer intervenções de outras esferas, como Ministério do Trabalho ou da Prefeitura, por exemplo.
 

Acidente no Itaquerão - 11 vídeos


8

Mortes

Até o momento, oito funcionários morreram nas obras de três estádios da Copa


Operários mortos no Itaquerão
  • Fabio Hamilton da Cruz, 23 anos, 29 de março de 2014 
  • Ronaldo Oliveira dos Santos, 44 anos, em 27 de novembro de 2013 
  • Fábio Luiz Pereira, 42 anos, em 27 de novembro de 2013 
Operários mortos na Arena Amazônia
  • Marcleudo de Melo Ferreira, 22 anos, em 14 de dezembro de 2013 
  • José Antônio da Silva Nascimento, 49 anos, em 14 de dezembro de 2013 
  • Antônio José Pita Martins, 55 anos, em 7 de fevereiro de 2014 
  • Raimundo Nonato Lima Costa, 49 anos, em 28 de março 2013 
Operários mortos no Mané Garrincha
  • José Afonso de Oliveira Rodrigues, 21 anos, em 11 de junho de 2012 

terça-feira, 25 de março de 2014

METRÔ








Propaganda do Metrô diz que lotação é boa para 'xavecar mulherada'

Ação, divulgada no momento em que casos de assédio sexual na rede vêm à tona, foi ao ar em uma rádio da capital. Metrô diz que campanha não foi aprovada; rádio nega

25 de março de 2014 | 16h 05Bruno Ribeiro e Caio do Valle - O Estado de S. Paulo
Atualizado às 20h38
Plataforma lotada do Metrô de São Paulo - Helvio Romero/Estadão
Helvio Romero/Estadão
Plataforma lotada do Metrô de São Paulo
SÃO PAULO - Uma inserção publicitária do Metrô de São Paulo está provocando polêmica na internet. O material, que foi ao ar em um programa da Rádio Transamérica FM, da capital paulista, dá a entender que a lotação dos trens é um bom lugar para "xavecar a mulherada". O texto vai ao ar em um momento em que surgem diversas denúncias de molestadores sexuais atacando mulheres na rede. Até a semana passsada, a polícia havia registrado 23 casos neste ano. O Metrô afirma que não aprovou a publicidade, e a rádio nega.
Lido pelo locutor como se estivesse confidenciando sua própria história ao ouvinte, e de propósito com diversos erros gramaticais, o texto diz: "Nos horários de pico, é normal trem e metrô ficar lotado. É assim também nas grandes metrópoles espalhadas pelo mundo. Pra falar a verdade, até gosto do trem lotado, é bom pra xavecar a mulherada, né, mano? Foi assim que eu conheci a Giscreuza. Muito já foi feito e o governo sabe que ainda tem muito pra fazer. Governo do Estado de São Paulo." Ouça o comercial clicando aqui.
O spot levou passageiros inconformados com o material a questionarem o Metrô pelo Twitter. Em sua conta oficial na rede social, a empresa, que é controlada pelo governo do Estado, informou que "assim que tomou conhecimento do referido comercial, totalmente inapropriado, o Metrô consultou a agência responsável pela publicidade e foi informado de que seu conteúdo não só estava em desacordo com o briefing passado como também não fora aprovado - nem pela agência tampouco pelo Metrô. Advertida, a Rádio Transamérica FM tirou o comercial do ar e informou que a produção desse infeliz comercial é de sua inteira responsabilidade".
Repercussão. A bancada do PT na Assembleia Legislativa encaminhou uma representação contra o secretário da Casa Civil do governo do Estado, Edson Aparecido, o presidente da CPTM, Mário Bandeira e o presidente do Metrô, Luiz Antonio Carvalho Pacheco, pedindo abertura de um inquérito civil sobre o caso.
"A cultura do assédio que não respeita a mulher e seu corpo no espaço público, e que aceita a 'cantada' e o 'xaveco' como algo natural, independentemente da vontade da mulher é uma cultura opressora que envergonha, constrange a mulher e limita seu direito de ir e vir livremente", diz trecho da representação, assinada pelos deputados Luiz Claudio Marcolino e Alencar Santana Braga, ambos petistas.
Resposta. O Metrô foi procurado na tarde desta terça-feira, 25, para falar sobre o caso. Por escrito, a reportagem perguntou qual agência publicitária foi contratada para redigir esse texto, quem dentro da companhia é responsável por aprovar esses textos, qual é o valor do contrato e a data de vigência do acordo e, principalmente, quais seriam as medidas tomadas pela empresa pública diante dessa situação.
A nota da companhia, enviada 25 minutos depois do contato do Estado, não respondeu nenhuma dessas dúvidas, e se limitou a reescrever a resposta enviada pela companhia para sua conta no Twitter.
Por sua vez, a assessoria de imprensa da Rádio Transamérica FM informou por telefone apenas que "toda propaganda que a rádio veicula é aprovada pelo contratante". A empresa também divulgou que a inserção não é feita desde 20 de março.

quarta-feira, 19 de março de 2014

CASO SHEHERAZADE

Caso Sheherazade leva governo a estudar suspensão de verba para o SBT

Secretaria de Comunicação examina pedido motivado por comentário de apresentadora sobre ação de “justiceiros” no Rio. Deputada diz que Secom, que repassou R$ 153 milhões à TV em 2012, concorda com o pedido


Divulgação
SBT atribuiu responsabilidade por comentário a Rachel. "Afirmei compreender, e não aceitar", diz jornalista
O governo federal estuda suspender a verba publicitária que repassa à terceira maior emissora de TV do país, o Sistema Brasileiro de Televisão (SBT). O caso é examinado pela equipe do ministro Thomas Traumann, da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, a pedido da líder do PCdoB na Câmara, Jandira Feghali (RJ).

A deputada acusa a emissora de ter praticado apologia e incitação ao crime, à tortura e ao linchamento ao exibir comentários da apresentadora Rachel Sheherazade que, segundo a parlamentar, exaltavam a ação de chamados “justiceiros” no Rio de Janeiro contra um jovem de 16 anos, acusado de furto. “A Secom me deu um primeiro retorno dizendo que concorda com o conteúdo do nosso pedido e que estuda quais providências tomar”, disse Jandira Feghali ao Congresso em Foco.
A assessoria da Secretaria de Comunicação da Presidência confirmou que a pasta estuda o assunto, mas afirmou que só o ministro Thomas Traumann poderia confirmar se concorda ou não com a suspensão da verba. A reportagem aguarda retorno da Secom desde ontem (18) à tarde.
Em 2012, o SBT recebeu R$ 153,5 milhões em publicidade de verba publicitária do governo federal. Ficou atrás apenas da Globo (R$ 495 milhões) e da Record (R$ 174 milhões). O valor destinado à TV de Silvio Santos corresponde a 13,64% do bolo publicitário das emissoras. “Como o governo pode subsidiar um canal que tem uma editorialista que incita à violência e à justiça com as próprias mãos?”, questiona Jandira Feghali.
Na edição do telejornal SBT Brasil, do último dia 4 de fevereiro, Rachel disse que era “compreensível” a ação de um grupo de pessoas que acorrentou a um poste um adolescente acusado de furto no bairro do Flamengo, na Zona Sul do Rio. O jovem foi acorrentado, nu, pelo pescoço com uma trava de bicicleta. Ele teve parte da orelha cortada e só foi solto após a intervenção de uma moradora.
Para Rachel, a ação dos “justiceiros” se justifica por causa do clima de insegurança nas ruas e da ausência de Estado. Ela também criticou a atuação de militantes dos direitos humanos. “Faça um favor ao Brasil. Leve um bandido para casa”, declarou. Dias depois de ser acorrentado e solto, o adolescente foi detido novamente, desta vez por tentar assaltar um turista na cidade. Até o mês passado, o menor acumulava três passagens pela polícia.
Perda da concessão
A líder do PCdoB na Câmara trabalha em duas frentes contra o SBT. Além do ofício enviado diretamente à Secom, no dia 20 de fevereiro, ela também apresentou um requerimento à Procuradoria-Geral da República (PGR) em que pede a abertura de inquérito contra a TV e Rachel Sheherazade e o corte da verba enquanto durarem as investigações. Como mostrou o Congresso em Foco, em caso de condenação, Jandira solicita que o SBT perca até o direito à concessão pública. Caberá ao procurador-geral, Rodrigo Janot, dar andamento ou não aos pedidos.
A deputada diz que não há censura em sua iniciativa. Segundo ela, uma coisa é externar uma opinião, outra é defender um crime como “fazer justiça com as próprias”. “Não podemos ser coniventes com nenhum crime. O único poder capaz de julgar a proporcionalidade da punição é a Justiça, que dá direito de defesa. Temos de defender o estado democrático de direito.”
Compreender, sem aceitar
A reportagem procurou Rachel Sherazade e o SBT por meio da assessoria de imprensa da emissora. Mas, até o fechamento desta reportagem, ainda não havia recebido retorno da TV do empresário Sílvio Santos.
Em artigo publicado em 11 de fevereiro, na Folha de S. Paulo, a apresentadora diz que apenas expressou sua opinião e que não defendeu os chamados “justiceiros”. “Em meu espaço de opinião no jornal SBT Brasil, afirmei compreender (e não aceitar, que fique bem claro!) a atitude desesperada dos justiceiros do Rio”, escreveu Rachel. Em nota divulgada à época, o SBT alegou que a opinião da apresentadora era de responsabilidade dela, e não da emissora.
Jandira não concorda. Para ela, como concessão pública, a TV tem total responsabilidade em relação ao que leva ao ar. “A emissora vai ter de assumir. Não estamos provocando a Rachel Sheherazade, é o SBT que está em questão. Não é uma questão dela especificamente, mas dela vinculada ao canal. A gente espera que isso sirva de parâmetro para outras TVs”, disse a deputada.
Em 2000, o SBT chegou a ficar com 20% do “bolo” publicitário do governo entre as emissoras de TV. Naquele ano, ainda na gestão Fernando Henrique Cardoso (PSDB), a emissora recebeu R$ 135 milhões para divulgar ações do governo federal. Na época, era vice-líder de audiência, posto que perdeu, de lá para cá, para a Record, de Edir Macedo.
Outras representações
Este não é o único caso envolvendo a apresentadora e a emissora que Rodrigo Janot terá de analisar. Ainda em fevereiro, o Psol acionou a PGR contra Rachel e o SBT por apologia ao crime, à tortura e ao linchamento. No encontro com os parlamentares, Janot se comprometeu a designar um procurador para investigar o caso.
“A violência é feita em palavras pela Rachel Sheherazade tentando justificar uma violência absurda. E ela diz isto num meio de comunicação que é uma concessão”, afirmou o líder do Psol na Câmara, Ivan Valente (SP). “A liberdade de imprensa, que é importante e necessária, não poder ser refúgio de declarações irresponsáveis”, acrescentou o deputado.
Ainda em fevereiro, a presidente da Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa do Senado, senadora Ana Rita (PT-ES), pediu à Procuradoria-Geral de Justiça de São Paulo que abra procedimento para apurar o conteúdo do comentário de Rachel. Para a senadora, a apresentadora violou os direitos humanos e fez incitação à violência. Com o ofício, foi encaminhada uma nota de repúdio publicada pelo Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro sobre as violações de direitos cometidas pela jornalista.
A assessoria da Secretaria de Comunicação da Presidência disse que o ministro Thomas Traumann estava em reuniões na Presidência da República e não poderia poderia confirmar, como disse Jandira Feghali, se ele concorda com a suspensão da verba do SBT.
*Colaborou Eduardo Militão