Associação pede retirada de circulação de livro de padre sobre a boate KISS.
Lucas Azevedo
Do UOL, em Porto Alegre
Do UOL, em Porto Alegre
"No auge da balada celestial, o Pai perguntou se alguém queria voltar. Dois ou três disseram que sim e foram encontrados vivos no caminhão frigorífico que transportava os corpos ao Ginásio de Esportes", escreveu o padre Lauro Trevisan, autor da obra.
Para o padre Trevisan, trata-se de um mal entendido. "Isso me contaram antes de eu escrever o livro. Mas tomei apenas como uma parábola, uma alegoria para registrar aquele fenômeno do quase morte, em que a pessoa passa para o outro lado e volta e conta o que aconteceu", afirma o padre.
Controvérsia nas redes sociais
O lançamento do um livro que utiliza a tragédia da boate Kiss, em Santa Maria (RS), como tema principal gerou manifestações de críticas e apoio nas redes sociais. A obra mais recente das mais de 70 já lançadas pelo padre Trevisan. A publicação, que já teve seus 2.000 primeiros exemplares esgotados em uma semana, é chamada de oportunista por uns, mas elogiada por outros.
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Imagem de 12 de janeiro com cinco jovens mortas do incêndio da boate Kiss. Da esquerda para a direita, Fernanda Malheiros, Andrise Nicoletti, Paula Gatto, Júlia Saul e Melissa Correa. A imagem foi feita na mesma casa noturna duas semanas antes da tragédia, e o autor da foto, João Barcellos, também está entre as vítimas. Melissa, Paula e Andrise eram alunas do terceiro semestre de Agronomia da Universidade Federal de Santa Maria, curso que perdeu oito alunos. O total de alunos da UFSM mortos na Kiss até agora é de 102 Leia mais João Barcellos/SiteZoom
Trevisan afirma que a ideia para a obra surgiu depois da sugestão de leitores. "[O livro] é uma palavra carinhosa, de conforto, solidariedade e ânimo àqueles que sofrem. Como essa tragedia transcende as famílias, a cidade e até o pais, é uma mensagem para toda a humanidade", diz. E afirma algumas das lições que tenta passarem suas páginas: "a vida é curta, o respeito à vida, a Deus, a reconciliação, o cuidado com a própria vida e o sentimento de solidariedade", afirma o padre.
"'Kiss, Uma Porta para o Céu' entra no coração dos 241 jovens tragados pelo incêndio da boate Kiss e descobre que o voo celestial dessa juventude cometeu o milagre de inspirar o nascer de uma nova humanidade, mais amorosa, mais solidária, mais fraterna e mais elevada espiritualmente", diz o resumo da obra no site de Trevisan. "O livro busca responder aos por quês do sofrimento, onde está Deus diante de tanta dor e como reaver a vontade de viver e a felicidade", afirma.
- Santa Maria fica na região central do RS
"Dimensão transcendental"
Trevisan disse acreditar que a palavra "Kiss", na capa, foi o que gerou a polêmica. "Mas o livro não é só para Santa Maria. É para o mundo todo. O sacrifício dos 241 jovens transcende Santa Maria." Porém, ele explica a opção pelo título: "Se eu não coloco a palavra Kiss, alguém de outra cidade não reconheceria o significado. A própria palavra Kiss situa o foco da abordagem do livro, que não é um documentário nem uma reportagem, mas uma busca, uma viagem pela dimensão transcendental".Não querendo contar o que o leitor encontrará dentro de suas páginas Trevisan dá um gostinho do "Kiss": "Faço uma descrição poética e mística do que ocorreu com os que partiram. Como Deus é um pai, todos os que partiram se encontraram na morada celestial e fizeram uma festa. Também descrevo como é o além, mas segundo minha imaginação", esclarece.
"Para as pessoas que ficaram, a resposta é que ninguém pode reverter o tempo e o espaço. Os que partiram estão bem e só podem desejar que os que ficaram levantem seu ânimo, sigam seus caminhos, busquem felicidade e se ocupem de todas as maneiras para que esse sentimento vá se esvaindo com o tempo."
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